domingo, 6 de novembro de 2011

FUVEST 2011/2012

Questão 32
(...) o elemento religioso não limitou os seus efeitos ao fortalecimento, no mundo da cavalaria, do espírito de corpo; exerceu também uma ação poderosa sobre a lei moral do grupo. Antes de o futuro cavaleiro receber a sua espada, no altar, era-lhe exigido um juramento, que especificava as suas obrigações.(Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.)
O texto mostra que os cavaleiros medievais, entre outros aspectos de sua formação e conduta,
(A) mantinham-se fieis aos comerciantes das cidades, a quem deviam proteger e defender na vida cotidiana e em caso de guerra.
(B) privilegiavam, na sua formação, os aspectos religiosos, em detrimento da preparação e dos exercícios militares.
(C) valorizavam os torneios, pois neles mostravam seus talentos e sua força, ganhando prestígio e poder no mundo medieval.
(D) agiam apenas de forma individual, realizando constantes disputas e combates entre si.
(E) definiam-se como uma ordem particular dentro da rígida estrutura feudal, mas mantinham vínculos profundos com a Igreja.
Questão 33
Os centros artísticos, na verdade, poderiam ser definidos como lugares caracterizados pela presença de um número razoável de artistas e de grupos significativos de consumidores, que por motivações variadas — glorificação familiar ou individual,
desejo de hegemonia ou ânsia de salvação eterna — estão dispostos a investir em obras de arte uma parte das suas riquezas. Este último ponto implica, evidentemente, que o centro seja um lugar ao qual afluem quantidades consideráveis de recursos eventualmente destinados à produção artística. Além disso, poderá ser dotado de instituições de tutela, formação e promoção de artistas, bem como de distribuição das obras. Por fim, terá um público muito mais vasto que o dos consumidores propriamente ditos: um público não homogêneo, certamente (...).
(Carlo Ginzburg. A micro-história e outros ensaios, 1991.)
Os “centros artísticos” descritos no texto podem ser identificados
(A) nos mosteiros medievais, onde se valorizava especialmente a arte sacra.
(B) nas cidades modernas, onde floresceu o Renascimento cultural.
(C) nos centros urbanos romanos, onde predominava a escultura gótica.
(D) nas cidades-estados gregas, onde o estilo dórico era hegemônico.
(E) nos castelos senhoriais, onde prevalecia a arquitetura românica.
Questão 34
A Revolução Puritana (1640) e a Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra do século XVII. Sobre o conjunto de suas realizações, pode-se dizer que
(A) determinaram o declínio da hegemonia inglesa no comércio marítimo, pois os conflitos internos provocaram forte redução da produção e exportação de manufaturados.
(B) resultaram na vitória política dos projetos populares e radicais dos cavadores e dos niveladores, que defendiam o fim da monarquia e dos privilégios dos nobres.
(C) envolveram conflitos religiosos que, juntamente com as disputas políticas e sociais, desembocaram na retomada do poder pelos católicos e em perseguições contra protestantes.
(D) geraram um Estado monárquico em que o poder real devia se submeter aos limites estabelecidos pela legislação e respeitar as decisões tomadas pelo Parlamento.
(E) precederam as revoluções sociais que, nos dois séculos seguintes, abalaram França, Portugal e as colônias na América, provocando a ascensão política do proletariado industrial. Instrução: Leia o texto para responder às questões de números
35 e 36.
Os africanos não escravizavam africanos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adorava os mesmos deuses. (...) Quando um chefe (...) entregava a um navio europeu um grupo de cativos, não estava vendendo africanos nem negros, mas (...) uma gente que, por ser considerada por ele inimiga e bárbara, podia ser escravizada. (...) O comércio transatlântico (...) fazia parte de um processo de integração econômica do Atlântico, que envolvia a produção e a comercialização, em grande escala, de açúcar, algodão, tabaco, café e outros bens tropicais, um processo no qual a Europa entrava com o capital, as Américas com a terra e a África com o trabalho, isto é, com a mão de obra cativa.
(Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus filhos, 2008. Adaptado.)
Questão 35
Ao caracterizar a escravidão na África e a venda de escravos por africanos para europeus nos séculos XVI a XIX, o texto
(A) reconhece que a escravidão era uma instituição presente em todo o planeta e que a diferenciação entre homens livres e homens escravos era definida pelas características
raciais dos indivíduos.
(B) critica a interferência europeia nas disputas internas do continente africano e demonstra a rejeição do comércio escravagista pelos líderes dos reinos e aldeias então existentes na África.
(C) diferencia a escravidão que havia na África da que existia na Europa ou nas colônias americanas, a partir da constatação da heterogeneidade do continente africano e dos
povos que lá viviam.
(D) afirma que a presença europeia na África e na América provocou profundas mudanças nas relações entre os povos nativos desses continentes e permitiu maior integração e colaboração interna.
(E) considera que os únicos responsáveis pela escravização de africanos foram os próprios africanos, que aproveitaram as disputas tribais para obter ganhos financeiros.
Quest 36
Ao caracterizar a “integração econômica do Atlântico”, o texto
(A) destaca os diferentes papéis representados por africanos, europeus e americanos na constituição de um novo espaço de produção e circulação de mercadorias.
(B) reconhece que europeus, africanos e americanos se beneficiaram igualmente das relações comerciais estabelecidas através do Oceano Atlântico.
(C) afirma que a globalização econômica se iniciou com a colonização da América e não contou, na sua origem, com o predomínio claro de qualquer das partes envolvidas.
(D) sustenta que a escravidão africana nas colônias europeias da América não exerceu papel fundamental na integração do continente americano com a economia que se desenvolveu no Oceano Atlântico.
(E) ressalta o fato de a América ter se tornado a principal fornecedora de matérias-primas para a Europa e de que alguns desses produtos eram usados na troca por escravos africanos.
Quest 37
A tabela contém dados extraídos de A formação do capitalismo dependente no Brasil, 1977, de Ladislau Dowbor, que se referem ao preço médio de um escravo (sexo masculino) no Vale do Paraíba.
Ano                Preço (mil réis)
1835               375
1845               384
1855              1.075
1865                972
1875              1.256
Indique a alternativa, que pode ser confirmada pelos dados apresentados na tabela.
(A) A comercialização interna de escravos permitiu que os preços se mantivessem altos na primeira metade do século XIX.
(B) A Lei do Ventre Livre, de 1871, foi a principal responsável pela diminuição no número de escravos e pela redução dos preços.
(C) A grande imigração, a partir de 1870, aumentou o uso de mão de obra escrava e provocou redução nos preços.
(D) A proibição do tráfico de escravos, em 1850, provocou sensível aumento nos preços, pois limitou drasticamente o ingresso de africanos.
(E) A aplicação da tarifa Alves Branco, em 1844, aumentou os impostos de importação, dificultou o tráfico de escravos e provocou elevação nos preços.
Quest 38
O caudilhismo é um fenômeno político hispano-americano do século XIX, que se associa
(A) à resistência contra o intervencionismo norte-americano, sobretudo nas áreas do Caribe e América Central.
(B) às guerras civis entre unitários e federalistas durante o processo de formação dos Estados nacionais.
(C) aos pensadores liberais que lutaram pela emancipação política e econômica do continente.
(D) às lideranças militares que atuaram nas guerras de independência e defenderam a unificação do continente.
(E) ao temor, manifesto sobretudo na região do Prata, de que o Império brasileiro avançasse militarmente para o sul.
Quest 39
Com pouco dinheiro, mas fora do eixo revolucionário do mundo, ignorando o Manifesto Comunista e não querendo ser burguês, passei naturalmente a ser boêmio. (...) Continuei na burguesia, de que mais que aliado, fui índice cretino, sentimenta
e poético. (...) A valorização do café foi uma operação imperialista. A poesia Pau Brasil também. Isso tinha que ruir com as cornetas da crise. Como ruiu quase toda a literatura brasileira “de vanguarda”, provinciana e suspeita, quando não extremamente esgotada e reacionária.
(Oswald de Andrade. Prefácio a Serafim Ponte Grande, 1933.)
O texto de Oswald de Andrade
(A) expõe o anseio do autor de que a literatura e as demais formas artísticas fossem controladas pelo Estado e escapassem, assim, da tutela da classe social hegemônica.
(B) revela algumas das principais características do movimento modernista de 1922, como a busca da identidade nacional e a adesão a projetos político-partidários de direita.
(C) indica o afastamento gradual dos participantes da Semana de Arte Moderna em relação aos componentes ideológicos de esquerda que caracterizaram o movimento.
(D) explicita a preocupação dos setores políticos e sociais dominantes frente à crise econômica provocada pela alta do preço do café e sua tentativa de regulamentar o setor.
(E) demonstra a defesa, pelo autor, da politização da produção literária e o abandono de parte dos princípios estéticos que guiaram sua obra na década anterior.
Quest 40
A Coluna Prestes, que percorreu cerca de 25 mil quilômetros no interior do Brasil entre 1924 e 1927, associa-se
(A) ao florianismo, do qual se originou, e ao repúdio às fraudes eleitorais da Primeira República.
(B) à tentativa de implantação de um poder popular, expressa na defesa de pressupostos marxistas.
(C) ao movimento tenentista, do qual foi oriunda, e à tentativa de derrubar o presidente Artur Bernardes.
(D) à crítica ao caráter oligárquico da Primeira República e ao apoio à candidatura presidencial de Getúlio Vargas.
(E) ao esforço de implantação de um regime militar e à primeira mobilização política de massas na história brasileira.
Quest 41
Nas primeiras sequências de O triunfo da vontade [filme alemão de 1935], Hitler chega de avião como um esperado Messias. O bimotor plaina sobre as nuvens que se abrem à
medida que ele desce sobre a cidade. A propósito dessa cena, a cineasta escreveria: “O sol desapareceu atrás das nuvens. Mas quando o Führer chega, os raios de sol cortam o céu, o céu hitleriano”. (Alcir Lenharo. Nazismo, o triunfo da vontade, 1986.)
O texto mostra algumas características centrais do nazismo:
(A) o desprezo pelas manifestações de massa e a defesa de princípios religiosos do catolicismo.
(B) a glorificação das principais lideranças políticas e a depreciação da natureza.
(C) o uso intenso do cinema como propaganda política e o culto da figura do líder.
(D) a valorização dos espaços urbanos e o estímulo à migração dos camponeses para as cidades.
(E) o apreço pelas conquistas tecnológicas e a identificação do líder como um homem comum.
Quest 42
A situação de harmonia no Congresso entraria em crise nas eleições de 1974, marco importante do avanço pela retomada do Estado de Direito. (Edgard Leite Ferreira Neto. Os partidos políticos no Brasil, 1988.)
O texto menciona as eleições parlamentares de 1974, ocorridas
durante o regime militar. Pode-se dizer que essas eleições
(A) representaram uma vitória significativa do partido da situação e eliminaram os esforços reformistas de deputados e senadores.
(B) revelaram a ampla hegemonia de que o governo desfrutava nos estados economicamente mais fortes do Sudeste e sua fragilidade no Centro-Norte do país.
(C) reforçaram a convicção de que o bipartidarismo era o modelo político-partidário adequado para a consolidação da República brasileira.
(D) demonstraram insatisfação de parte expressiva da sociedade brasileira e provocaram forte reação do governo, que alterou as leis eleitorais para assegurar a manutenção do controle sobre o Congresso Nacional.
(E) expressaram a popularidade dos candidatos do partido de oposição e o desejo dos oposicionistas de manterem a ordem política então predominante.




 32 - E
33 - B
34 - D
35 - C
36 - A
37 - D
38 - B
39 - E
40 - C



 41 - C
42 - D


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Era Vargas - 1930-1945

 

Governo Provisório (1930 - 1934)

Nomeado presidente, Getúlio Vargas usufruia de poderes quase ilimitados e, aproveitando-se deles, começou a tomar políticas de modernização do país. Ele criou, por exemplo, novos ministérios - como o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o Ministério da Educação e Saúde -, e nomeou interventores de estados. Na prática, os estados perdiam grande parte da sua autonomia política para o presidente. Continuou com a Política de Valorização do Café (PVC) e criou o Conselho Nacional do Café e o Instituto do Cacau atendendo assim a algumas das reivindicações das oligarquias cafeeiras.
A Getúlio Vargas também é creditado, nesta época, a Lei da Sindicalização, que vinculava os sindicatos brasileiros indiretamente - por meio da câmara dos deputados - ao Presidente. Vargas pretendia, assim, tentar ganhar o apoio popular, para que estes apoiassem suas decisões (a política conhecida como populismo). Assim sendo, houve, na Era Vargas, grandes avanços na legislação trabalhista brasileira, muitos deles não devidos exatamente a Vargas - a quem cujo crédito maior é o estabelecimento da CLT - mas sim por parte de parlamentares constituintes do período. Mudanças essas que perduram até hoje.

Revolução Constitucionalista de 1932

Em 1931, Getúlio Vargas derruba a Constituição brasileira, reunindo enormes poderes no Brasil. Isso despertou a indignação dos opositores, principalmente as oligarquias cafeeiras e a classe média paulista, que estavam desgostosos com o governo getulista. A perda de autonomia estadual, com a nomeação de interventores, desagradou ainda mais. Por mais que Getúlio tenha percebido o erro e tentado nomear um interventor oligarca paulista, estes já arquitetavam uma revolta armada, a fim de defender a criação de uma nova Constituição.
Quando quatro jovens estudantes paulistanos (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo) são assassinados no dia 23 de Maio de 1932, diversos setores da sociedade paulista se mobilizam com o evento, e toda a sociedade passa a apoiar a causa constitucional. No dia 9 de Julho do mesmo ano, a revolução explode pelo estado. Os paulistas contavam com apoio de tropas de diversos estados, como Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul, mas Getúlio Vargas foi mais rápido e conseguiu reter esta aliança, isolando São Paulo. Sem qualquer apoio, os flancos paulistas ficaram vulneráveis, e o plano de rápida conquista do Rio de Janeiro transformou-se em uma tentativa desesperada de defender o território estadual. Sem saída, o estado se rende em 28 de Setembro.
Mesmo com a vitória militar, Getúlio Vargas atende alguns pedidos dos republicanos, e aprova a Constituição de 1934.
O estado de São Paulo não conseguiu a adesão de praticamente nenhum outro estado brasileiro. Os paulistas, chefiados por Isidoro Dias Lopes, permaneceram isolados, sem adesão das demais unidades da federação, excetuando um pequeno contingente militar vindo do Mato Grosso, sob o comando do general Bertoldo Klinger. Claramente porque era uma revolução encabeçada basicamente pela elite do PRP - Partido Republicano Paulista - que, por meios de propagandas eficientes, conseguiu galgar apoio de diversos setores da sociedade paulista - taxando Getúlio Vargas como um cruel ditador fascista.
Para reprimir a rebelião paulista, Getúlio Vargas enfrentou sérias dificuldades no setor militar, pois inúmeros generais simplesmente recusaram a missão, tendo em vista que estes temiam a ameaça de perder os cargos. Percebendo o débil apoio que tinha no seio da cúpula do Exército, e a fim de conquistá-lo, Vargas rompeu em definitivo com os tenentes, que não eram bem vistos pelos oficiais legalistas. Em 3 de outubro de 1932, em meio a crise militar e apesar dela, Getúlio conseguiu esmagar a revolta paulista.

O Governo Constitucionalista (1934 - 1937)

Getúlio Vargas convoca a Assembleia em 1933, e em 16 de Julho de 1934 a nova Constituição, trazendo novidades como o voto secreto, ensino primário obrigatório, o voto feminino e diversas leis trabalhistas. O voto secreto significou o fim do voto aberto preponderante na República Velha, onde os coronéis tinham a oportunidade de controlar os votos. A nova constituição estabeleceu também que, após sua promulgação, o primeiro presidente seria eleito de forma indireta pelos membros da Assembleia Constituinte. Getúlio Vargas saiu vitorioso.
Nessa mesma época, duas vertentes políticas começaram a influenciar a sociedade brasileira. De um lado, a direita fundara a Ação Integralista Brasileira (AIB), pregando um Estado totalitário. Do outro, crescia a força de esquerda da Aliança Nacional Libertadora (ANL).

O Plano Cohen

Getúlio Vargas e o alto comando das Forças Armadas sempre se mostraram contra o comunismo, e usaram este pretexto para o seu maior sucesso político - o golpe de 1937. O PCB, que surgiu em 1922, havia criado a Aliança Nacional Libertadora, mas Getúlio Vargas a declarou ilegal, e a fechou. Assim, em 1935, a ANL (com o apoio da Internacional Comunista Comintern) montou a Intentona Comunista, uma revolta contra Getúlio Vargas, mas que este facilmente conteve. Em 1937, os integralistas forjaram o "Plano Cohen", em que dizia-se que os comunistas planejavam uma revolução maior e mais bem-arquitetada do que a de 1935, e teria o amplo apoio do Partido Comunista da União Soviética. Os militares e boa parte da classe média brasileira, assim, apóiam a ideia de um governo mais fortalecido, para espantar a ideia da imposição de um governo comunista no Brasil. Com o apoio militar e popular, Getúlio Vargas derruba a Constituição de 1934,e declara o Estado Novo.

Estado Novo (1937 - 1945)

A constituição de 1937, que criou o "Estado Novo" getulista, tinha caráter centralizador e autoritário. Ela suprimiu a liberdade partidária, a independência entre os três poderes e o próprio federalismo existente no país, Vargas fechou o Congresso Nacional e criou o Tribunal de Segurança Nacional. Os prefeitos passaram a ser nomeados pelos governadores e esses, por sua vez, pelo presidente. Foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), com o intuito de projetar Getúlio Vargas como o "Pai dos Pobres" e o "Salvador da Pátria".

A forte concentração de poder no Executivo federal, em curso desde fins de 1935, a aliança com a hierarquia militar e com setores das oligarquias, criaram as condições para o golpe político de Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, inaugurando um dos períodos mais autoritários da história do país, que viria a ser conhecido como Estado Novo.
Nesse cenário de controle ideológico foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), encarregado da propaganda e promoção do regime junto à população. O DIP foi responsável pela censura a órgãos de imprensa e veículos de comunicação, sendo um instrumento estratégico na propagação de ideologias ufanistas e de exaltação do trabalho. Um exemplo ilustrativo dessa atuação foi a distribuição de verbas a escolas de samba, desde que trocassem a apologia à malandragem por temas "patrióticos" e de incentivo ao trabalho. Para difundir as idéias nacionalistas entre os mais novos o Estado tornou obrigatória a disciplina de Educação Moral e Cívica nas escolas.

O apelo direto às massas era uma marca da demagogia populista e da relação dos dirigentes nazistas e fascistas com a população, e Vargas soube tirar proveito máximo dessa estratégia. Fomentando o sentimento nacionalista em torno da ameaça do comunismo, a ditadura conseguia um apoio popular massivo. Este sentimento crescia ainda mais diante dos esforços industrializantes do governo, que aceleravam o desenvolvimento econômico e a entrada do Brasil no contexto internacional. Foram criados órgãos estratégicos para viabilizar este esforço de desenvolvimento, tais como o Conselho Nacional do Petróleo e o Conselho Federal de Comércio Exterior. Foi desse período a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, que desempenhou papel fundamental no fornecimento de matéria-prima para o setor industrial.

De volta à democracia

A Segunda Guerra Mundial, deflagrada em 1939, pôs em disputa a doutrina fascista e nazista contra a doutrina da liberal-democracia. Apesar da simpatia de Vargas pela Alemanha e pela Itália, as circunstâncias da guerra, com a entrada dos Estados Unidos no conflito, levaram o Brasil a combater ao lado dos Aliados. Com a derrota de Hitler em 1945, o mundo foi tomado pelas idéias democráticas e o regime autoritário brasileiro já não podia se manter.

Getúlio Vargas foi deposto pelos militares em 29 de outubro de 1945, sob o comando de Góes Monteiro, um dos homens diretamente envolvidos no golpe de 1937. A abertura democrática levou ao poder o general Eurico Gaspar Dutra, como presidente eleito pelo voto popular, dando fim a um dos períodos mais autoritários e violentos da nossa história.
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_Vargas

http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/estado-novo-1937-1945-a-ditadura-de-getulio-vargas.jhtm

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Exercícios - Era Vargas 1930-1945

Getúlio Vargas
1- A Aliança Liberal” defendendo o lema “ Representação e Justiça”, apresentou na campanha pela sucessão presidencial a chapa formada por:
a) Nilo Peçanha – J. Seabra
b) Hermes da Fonseca – Venceslau Brás
c) Afonso Pena – Nilo Peçanha
d) Washington Luís – Melo Viana
e) Getúlio Vargas – João Pessoa

2. Sobre a Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas, que, através dela, institui o Estado Nacional, podemos afirmar que:
a) separou o Estado da Igreja
b) Aboliu o cargo de Vice Presidente da República
c) Permitiu o voto das mulheres
d) Estabeleceu o voto secreto
e) Denominou-se constituição da mandioca

3. A implantação do estado Novo no Brasil significa:
a)proscrição do Partido Comunista
b) a consolidação do Integralismo
c)a vinculação da política externa brasileira ao eixo Roma-Berlim
d)uma vitória pessoal do presidente Getúlio Vargas
e)a extinção do federalismo republicano.

4. Entre as iniciativas de Getúlio Vargas em 1930, destaca-se a criação do:
a) Programa de Integração Social
b) Departamento Nacional de Telecomunicações
c) Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho
d) Instituto Nacional de Previdência Social
e) Partido Trabalhista Brasileiro

5. De um ponto de vista externo, a queda de Vargas em 1945 está vinculada:
a)à queda dos regimes totalitários fascistas no fim da Segunda Guerra Mundial;
b)às pressões dos Estados Unidos da América, interessados em governos democráticos em todo o continente;
c)ao apoio dado pela Forças Armadas dos EUA aos militares brasileiros, responsáveis pela queda do ditador gaúcho;
d)à perda de prestígio internacional, já que o ditador apoiava os regimes totalitários da Itália e da Alemanha;
e)às ligações econômicas, políticas e ideológicas entre o governo brasileiro e as potências do eixo.

6- (UFF-RJ-2000) “A Revolução de 1930 pôs fim à hegemonia do café, desenlace inscrito na própria forma de inserção do Brasil no sistema capitalista internacional”. (Fausto, Bóris. A revolução de 30: Historiografia e História. SP, Brasiliense, 1972, p.112).

a) Vários fatores sociais determinaram este processo revolucionário. Cite dois deles.
b) Analise os desdobramentos da Revolução de 1930 na industrialização brasileira.

Resolução: Na alternativa “a” você tem uma ampla gama de personagens que podem ser citados, dentre eles os tenentes, as oligarquias dissidentes, as oligarquias não cafeeiras, os tenentes civis, os setores médios urbanos, as classes médias (expressas pelo tenentismo), a Aliança Liberal, a oligarquia gaúcha, a dissidência de Minas Gerais e os setores operários.

Na “b” você pode responder que com a derrota da oligarquia cafeeira ou com a saída da burguesia paulista do poder, o Estado procurou reorientar a economia para o desenvolvimento da indústria pesada, de modo a superar a dependência do país das exportações do café. A burguesia industrial alinhou-se às forças vitoriosas, já que a política de câmbio baixo, favorável às exportações cafeeiras, lhe era desfavorável. O novo Estado, postulando a estabilidade cambial, criou uma conjuntura favorável à industrialização, pois assim tornava-se mais barata e fácil a importação de máquinas e equipamentos industriais. Assim, a partir dos efeitos negativos da crise de 29 sobre o preço do café, o que deixou evidente a situação precária do país em manter-se na dependência estrita da exportação de um só produto-chave, o governo passa a estimular o desenvolvimento industrial, fosse pelo favorecimento do câmbio alto, fosse pelo fato de o próprio Estado passar a investir em indústrias de base, tais como siderúrgica, de álcalis, de motores, hidrelétricas etc.

7- (Fuvest-SP/2000) “São Paulo não está apenas descontente. Está ferido na sua sensibilidade. O que a Revolução lhe pediu ele lho deu... Por que a Revolução tarda em restaurá-lo na sua autonomia e no governo direto de seus filhos? Cansado de viver como terra conquistada, São Paulo... pede apenas, à frente da administração de seus negócios, um de seus filhos que lhe compreenda o espírito e não lhe golpeie o coração”. (O Estado de S. Paulo, 27 de janeiro de 1932)

Explique os impasses políticos discutidos por esse jornal e indique seus desdobramentos.

Resolução : Basicamente, a nomeação do interventor federal João Alberto por Getúlio Vargas confrontou-se com as elites de São Paulo que perderam a influência e o poder político que detinham antes da Revolução de 1930. A crescente campanha contra o intervencionismo de Getúlio Vargas e a exigência de uma Constituição para o país resultariam na Revolução Constitucionalista de 1932.
8- (Mackenzie-SP/2004) Getúlio Vargas pôde, em 1937, inaugurar um novo governo, conhecido como Estado Novo. Sobre esse período, é correto afirmar que:

a) era caracterizado pelo exercício da democracia e das liberdades civis, em repúdio às idéias comunistas que ameaçavam a nação, dada a intenção desses grupos revolucionários de chegar ao poder por meio de um golpe.
b) diante da ameaça comunista, o Parlamento, as Assembléias Estaduais, assim como as Câmaras Municipais, passaram a legislar e a intervir em diversos assuntos da política nacional.
c) ocorreu a imposição de uma Constituição autoritária, influenciada pelas doutrinas fascistas que vigoravam em algumas nações européias, o que representou o início de um período de ditadura.
d) dentro do novo regime, graças à subordinação das corporações sindicais ao Estado, que passou a controlar a ação dos trabalhadores, houve a conquista de direitos trabalhistas, resultado da boa vontade das elites empresariais.
e) a conjuntura econômica internacional contribuiu para a consolidação do Estado Novo, que, diante da crise que ainda persistia no setor cafeeiro, aumentou o seu papel interventor, buscando solucionar o problema das exportações nacionais.
9-(FGV-SP/2004) Em 21 de dezembro de 1941, Getúlio Vargas recebeu Osvaldo Aranha, seu ministro das Relações Exteriores, para uma reunião. Leia alguns trechos do diário do presidente: "À noite, recebi o Osvaldo. Disse-me que o governo americano não nos daria auxílio, porque não confiava em elementos do meu governo, que eu deveria substituir. Respondi que não tinha motivos para desconfiar dos meus auxiliares, que as facilidades que estávamos dando aos americanos não autorizavam essas desconfianças, e que eu não substituiria esses auxiliares por imposições estranhas."

(Vargas, Getúlio, Diário. São Paulo/Rio de Janeiro, Siciliano/Fundação Getúlio Vargas, 1995, vol. II, p. 443)

A respeito desse período, podemos afirmar:

a) As desconfianças norte-americanas eram completamente infundadas porque não havia nenhum simpatizante do nazi-fascismo entre os integrantes do governo brasileiro.
b) Com sua política pragmática, Vargas negociou vantagens econômicas com o governo americano e manteve em seu governo simpatizantes dos regimes nazi-fascistas.
c) Apesar das semelhanças entre o Estado Novo e os regimes fascistas, Vargas não permitiu nenhum tipo de relacionamento diplomático entre o Brasil e os países do Eixo.
d) No alto escalão do governo Vargas havia uma série de simpatizantes do regime comunista da União Soviética e de seu líder Joseph Stalin.
e) As pressões do governo norte-americano levaram Vargas a demitir seu ministro da Guerra, o general Eurico Gaspar Outra, admirador dos regimes nazi-fascistas.
10-(UFF-RJ/2002) O Estado Novo, identificado à primeira grande experiência autoritária brasileira, terminou em 1945, quando, então, verificou-se a chamada redemocratização.

a) Associe o fim do Estado Novo ao da Segunda Guerra Mundial.
b) Explique por que a redemocratização brasileira de 1945 pode ser analisada, ao mesmo tempo, como ruptura e como continuidade.

Resolução : A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado das forças aliadas, defensoras dos valores liberais e da democracia, era incompatível com a preservação de um regime autoritário no país, o que levaria ao fim do Estado Novo.

A redemocratização, como ruptura, representou o fim do regime ditatorial de Getúlio Vargas, mediante o retorno ao Estado de Direito e à legalização dos partidos políticos. No entanto, ao mesmo tempo, esse processo foi marcado pelo continuísmo do grupo de Vargas no poder, já que sob sua influência pessoal foram criados dois partidos políticos: o PSD e o PTB, assim como a política brasileira continuava a ter como característica principal o populismo varguista.

Falar em Getúlio Vargas sem lembrar da questão da implantação das leis trabalhistas é impossível. E, é claro, os vestibulares também costumam saber qual é o seu conhecimento sobre este tema. Verifique como estão seus estudos a respeito desse conteúdo:

GABARITO
1-E, 2-B; 3-D;; 4- C; 5- A; 8-C; 9-B

Exercícios - América espanhola

1- (UEL-PR) "Sem colonização não há uma boa conquista, e se a terra não é conquistada, as pessoas não serão convertidas. Portanto, o lema do conquistados deve ser colonizar"
Gómara, Francisco Lopez de. História General de lãs índias. Madrid, 1852 p.181. citado por Bethel, Leslie (Org.) História da América Latina. 2. ed. São Paulo: Edusp; Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 1988. p.135.
Com base nas palavras do historiador e nos conhecimentos sobre a conquista da América Espanhola, é correto afirmar:
a) A boa conquista, para o autor, limitava-se a assaltar, a saquear e a tomar posse dos objetos fáceis de transportar, como ouro, prata e pedras preciosas.
b) A colonização da América foi uma ação militar e teve seqüência na conquista espiritual e na migração maciça de súditos espanhóis para dominar a terra.
c) Para os espanhóis, que menosprezavam a condição do senhor, a ausência de mão-de-obra para trabalhar a terra não foi um obstáculo à colonização.
d) A superioridade numérica de armamentos e a experiência tática dos espanhóis permitiram uma conquista pacífica e sem traumas.
e) A conquista preservou as instituições nativas, conservando os níveis demográfico, econômico, social e ideológico das sociedades autóctones.

2- (Fuvest-SP) Comparando as colônias da América portuguesa e da América espanhola, pode-se afirmar que:
a) as funções encomenderos foram idênticas às dos colonos que receberam sesmarias no Brasil.
b) a mão-de-obra escrava africana foi a base de sustentação das atividades mineradoras, em ambas as colônias.
c) a atuação da Espanha, diferente da de Portugal, foi contrária às diretrizes mercantilistas para suas colônias.
d) as manufaturas têxteis foram proibidas por ambas as Coroas, e perseguidas as tentativas de sua implantação.
e) as atividades agrárias e mineradoras se constituíram na base das exportações das colônias das duas Américas.

3-(PUC-MG) São características da Hispano-América Colonial até meados do século XVI, exceto:
a) a ação da Coroa como instituição diretamente responsável pela exploração dos índios.
b) a submissão dos índios à prática das encomiendas pelos hispânicos.
c) a conquista e dominação dos índios da Confederação Asteca e das cidades maias.
d) a pilhagem e o saque dos tesouros das Altas Culturas - astecas, maias e incas.

4-(UERJ) "Na realidade,nem toda colonização se desenrola dentro das travas do sistema colonial. Os sistemas nunca se apresentam, historicamente, em estado puro. (...) A colonização da Nova Inglaterra se deu fora dos mecanismos definidores do sistema colonial mercantilista, e (...) fatores específicos (...) deram origem a essa forma de expansão ultramarina: colônias de povoamento (...). A categoria de colônias que se lhe contrapõe é a de colônias de exploração".
(Adptado de NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1981.)
Considere a Nova Inglaterra como exemplo de colônia de povoamento e a América portuguesa como exemplo de colônia de exploração.
Cite, para cada uma delas, o tipo de propriedade predominante e a principal relação de trabalho.

5- Compare os sistemas de colonização adotados na América por Espanha e Inglaterra.

6- Na colonização da América os espanhóis utilizaram‐se de dois sistemas para enquadrar o trabalho dos índios. Dê o nome e explique como funcionava cada um desses sistemas.

7- No Brasil e no Caribe, a escravidão africana constituiu‐se na principal modalidade de trabalho. Na América de colonização espanhola ‐ México, Peru ‐ predominou o trabalho indígena compulsório. Explique as origens dessas diferenças.

8-"A Espanha iniciou seu ciclo de navegações no final do século XV quando Portugal já havia atingido o Cabo da Boa Esperança". Justifique a afirmação.

9. (PUC) - " .. a espada, a cruz e a fome dizimaram a família selva­gem ... "

(Pablo Neruda) Tendo em vista a fala do poeta sobre a conquista espanhola da América, elabore duas considerações sobre o conteúdo dessa afir­mação.

10. Podemos afirmar que a conquista dos povos indígenas do Conti­nente Americano deveu-se, sobretudo:
a) à esmagadora inferioridade cultural das populações vencidas que, ao contrário da Espanha, não tinham nem rei, nem lei, nem fé.
b) à incrível coragem dos aventureiros espanhóis, que enfrentaram bravamente uma população nativa muitas vezes maior que a sua e com um equipamento bélico muito superior ao seu.
c) à superioridade técnica dos espanhóis, que conheciam armas de fogo, aproveitaram-se das lutas políticas entre as próprias na­ções indígenas para formar alianças e, ainda, trouxeram doenças que dizimaram a população indígena.d) ao desejo das elites indígenas de se submeterem ao jugo de uma nação mais culta e desenvolvida, como a espanhola.
e) a uma extraordinária proteção divina dada aos espanhóis, que tomaram a nova terra em nome de Deus e da cristianização dos pagãos, para os reis católicos Fernando e Isabel.



GABARITO
1--B
2- E
3- A
4- Na América portuguesa: tipo de propriedade predominante: grande propriedade.principal relação de trabalho: escravo.
- Na Nova Inglaterra: tipo de propriedade predominante: pequena e média propriedade.
principal relação de trabalho: livre, servidão por contrato.
5-A Espanha, e também Portugal, adotou o modelo denominado colônia de exploração. Suas características principais eram a utilização de mao‐de‐obra escrava (indígena e negra) e a produção para o mercado externo. Nos territórios colonizados pela Espanha. a principal atividade econômica foi a extração de metais preciosos, especialmente o ouro e a prata.não remunerado. Os índios eram entregues a um espanhol. o encomendero, que deveria dar proteção e cristianizar os nativos, distribuindo‐os posteriormente aos colonizadores. Na prática correspondeu também a uma verdadeira escravidão. Esses
 
No Brasil, a colonização se viabilizou com a implantação da economia açucareira. Ela se caracterizava pela monocultura, pela grande propriedade, pelo trabalho escravo e pela produção destinada ao mercado externo.
No caso inglês, é preciso distinguir dois processos de colonização. No norte e centro das treze colônias se instalou o modelo da colônia de povoamento. Os colonos possuíam certa autonomia em relação à metrópole, e todas as atividades produtivas (manufaturas. pesca. agricultura etc.) eram voltadas para o mercado interno e para a comercialização com as colônias inglesas do Caribe, o chamado comércio triangular. Nas colônias localizadas no sul, a forma de exploração era semelhante à da América portuguesa. A plantation: agricultura baseada no latifúndio, mao‐de‐obra escrava e produção voltada para o mercado externo principalmente de tabaco e de algodão.

6- Os sistemas mencionados pela questão eram a mita e a encomienda.
Na mita se sorteava uma certa quantidade de índios de cada comunidade para trabalhar nas minas. A mita era uma antiga instituição inca e os espanhóis transformaram esse tipo de trabalho em uma verdadeira escravidão. A encomienda era uma forma de trabalho compulsório e
dois sistemas de exploração de trabalho dizimaram milhões de indígenas. Eles pereciam de fome, doenças, maus‐tratos e excesso de trabalho.

7. As necessidades da economia açucareira e os enormes lucros que o tráfico negreiro proporcionava ao setor mercantil português explicam a opção pela escravidão negra no Brasil. Os portugueses já estavam acostumados a obter escravos na África antes mesmo da colonização do Brasil. Acrescente‐se a isso a proibição da escravidão indígena determinada pela Igreja e a maior dispersão da população indígena brasileira em relação à população indígena dos impérios inca e asteca. que foram conquistados pelos espanhóis. Os espanhóis aproveitaram inclusive formas de trabalho usadas pelos índios. É o caso da mita, uma instituição inca pela qual as diversas comunidades indígenas que faziam parte do império inca forneciam trabalhadores ao Estado.
Transformaram essa forma de trabalho em uma verdadeira escravidão. No Caribe as populações indígenas foram dizimadas nos primeiros anos da colonização. Aí se implantou uma economia semelhante à do Nordeste brasileiro: latifúndio, monocultura exportadora, mao‐de‐obra escrava africana.

8-A Espanha ainda não estava unificada politicamente e lutava contra a ocupação muçulmana nas Guerras de Reconquista. Com o casamento dos reis católicos, Fernando, de Aragão, e Isabel, de Castela (1469), os espanhóis alcançaram a unidade política e expulsaram os mouros da península, em 1492. A partir daí, foi possível a realização do ciclo ocidental de nave­gação, com Cristóvão Colombo.

9- A conquista espanhola fundou-se na violência, destruindo as grandes civilizações pré-colombianas, e onde a Igreja Católica aparece como o sustentáculo ideológico da dominação branca. Expropriada de suas terras, a família selvagem conheceu a
fome, e todas as mazelas dela resultante. Portanto, a espada, a cruz e a fome formam a trilogia que eliminou milhões de indí­genas americanos durante a empresa colonizadora européia.

10-c

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

América: colonização espanhola

Dos adelantados aos vice-reinos da Nova Espanha e do Peru

Quando Cristóvão Colombo chegou às Bahamas, em 1492, imaginou que tivesse alcançado a Ásia. Somente no início do século seguinte é que os europeus se deram conta de que tinham chegado a um continente que não constava nos mapas da época: a América.

De qualquer forma, Colombo foi o primeiro europeu a conhecer e explorar o Novo Mundo. Depois dele, vários outros se aventuraram nessas terras remotas. Hernán Cortés (conquistador do Império Asteca) e Francisco Pizarro (conquistador do Império Inca) são os nomes mais conhecidos de uma série de exploradores que deixaram a Europa em busca de riqueza e poder.

Na Espanha, foi a rainha Isabel de Castela quem incentivou tais viagens, já que o rei, Fernando II de Aragão, tinha seus interesses expansionistas voltados para a Itália.

Desde Colombo, a conquista da América foi um empreendimento de homens que investiam suas riquezas e contavam com a aprovação de Castela. Em troca da posse de novas terras, o reino castelhano garantia títulos de nobreza e rendimentos aos conquistadores bem-sucedidos. Dessa forma, Castela se eximia dos riscos financeiros e materiais, e obtinha o poder expansionista que tais viagens poderiam oferecer. Ao mesmo tempo, os conquistadores, acostumados às guerras e à vida árdua (numa Espanha em que só os nobres tinham direitos), buscavam a possibilidade de ascensão social no Novo Mundo. Parecia uma boa troca.

Mas o Novo Mundo representava também uma nova realidade. A viagem pelo chamado "Mar Oceano" não era fácil; pior ainda era chegar a terras desconhecidas: a fome, as doenças - principalmente o escorbuto e a sífilis -, as intrigas, a saudade de casa, chamada de modorra, uma espécie de depressão profunda, as riquezas que não eram facilmente encontradas ou que ficavam nas mãos de poucos, levavam os espanhóis ao desespero.

Além disso, as novas terras eram habitadas por povos desconhecidos dos europeus que não estavam dispostos a se submeter ao controle espanhol, pois sequer compreendiam o que aqueles homens vindos do mar faziam ali.

Guerra e dominação

A comunicação entre índios e espanhóis era praticamente impossível no início, pois não só as línguas eram estranhas, como o universo cultural de ambos os lados era muito diferente. A solução encontrada pelos conquistadores foi a guerra e a dominação dos índios (nome dado por Colombo aos povos americanos).

A vida das tribos e civilizações indígenas da América foi completamente transformada com a chegada dos conquistadores espanhóis. A superioridade tecnológica dos europeus aterrorizou a todos: o barulho ensurdecedor das armas, o cheiro insuportável da pólvora e os "monstros de quatro patas" (o cavalo, animal desconhecido pelos povos da América) causaram grande alvoroço e pavor.

Junte-se a isso a falta de respeito às tradições locais, a facilidade em mentir sobre seus reais interesses, uma bagagem histórica de guerras, o fanatismo religioso cristão e a intolerância e teremos alguns aspectos que nos ajudam a compreender como poucas centenas de europeus conseguiram vencer e explorar milhares de índios.

Apesar de a rainha Isabel desejar que os indígenas (os "súditos do Novo Mundo") fossem tratados com respeito pelos espanhóis, na prática eles foram levados à condição de semiescravidão. O sistema de encomienda, trazido da Espanha para a América, desorganizou toda a vida e produção econômica local: as terras e os grupos indígenas que ali viviam foram repartidos entre os espanhóis.

Escravidão e mortandade

Os índios deveriam trabalhar nas minas e nas plantações, que eram chamadas de haciendas, em troca de proteção e da catequização imposta, segundo a crença espanhola, como uma forma de benefício para salvar suas almas.

O trabalho era excessivo e não permitia que os índios pudessem manter as suas roças. A exploração do trabalho, praticada por dominadores intolerantes e sedentos de riqueza, levou os indígenas à exaustão e à fome.

O simples contato com os espanhóis causou uma enorme mortandade, pois os indígenas não tinham imunidade a doenças comuns na Europa da época, que chegaram junto com os conquistadores: a gripe, a varíola, a tuberculose, a peste.

A redução demográfica da população indígena foi tamanha que os europeus tiveram que lançar mão do recurso da "guerra justa", ou seja, a guerra contra rebeldes e inimigos, que eram transformados em escravos. Esse tipo de argumento para a guerra foi ainda mais utilizado quando se descobriu uma particularidade da cultura ameríndia: os rituais antropofágicos e sacrifícios humanos, considerados crimes horríveis perante a visão católica.

A partir de 1512, a Coroa, "preocupada" com os povos indígenas, pretendeu levar a eles a fé cristã, considerada a única verdadeira, mas também cuidando em não prejudicar os espanhóis que necessitavam de mão de obra. Obrigou então que os conquistadores da América lessem aos povos conquistados o chamado requerimiento, um documento que "explicava" em castelhano, língua estranha aos índios, quais seriam as condições da dominação:

"Se assim fizerdes, Sua Majestade vos acolherá com todo o amor e afeto, deixando livres as vossas esposas e filhos para que possais proceder com eles como entenderes (...). Mas se vos recusais, ou se de má-fé tardardes a fazê-lo, com a ajuda de Deus penetrarei em vossas terras e vos submeterei ao jugo da Igreja e a Sua Majestade, e tomarei vossa esposa e vossos filhos para fazer escravos deles (...) E declaro que toda morte e devastação que daí advier terá sido por culpa vossa e não de Sua Majestade, ou minha, ou de meus homens".

Por todas as situações presentes nos movimentos de conquista do continente, podemos entender por que a conquista da América é, ainda hoje, considerada um dos maiores genocídios cometidos na História.

Administração espanhola

Os exploradores que conduziram a conquista pelo continente, enfrentando as mais terríveis dificuldades, colocando suas vidas em risco, receberam o título de adelantados ("adiantados", significando homens da fronteira), e gozaram de ampla liberdade de atuação, recebendo muitos privilégios.

A cada cidade fundada, ou dominada, se organizava um ayuntamiento (mais tarde chamado de cabildo), que seria o que hoje conhecemos por Câmara Municipal: ficava sob o controle dos conquistadores e deveria obedecer às ordens vindas de Castela. Mas cumprir as ordens castelhanas não era nada fácil pois, em razão da grande distância, uma viagem de ida e volta entre o México e Sevilha demorava mais de um ano.

Tal situação criou um vácuo entre o poder central castelhano e os interesses dos conquistadores. Eles tinham de agir de improviso e não podiam esperar por soluções vindas da Espanha para determinados problemas. Essa situação permeou toda a história da colonização nas "Índias de Castela".

Quando se descobriu o que era a América de fato: as ricas terras férteis, o ouro e a prata, os povos a serem explorados, a coroa de Castela buscou aumentar cada vez mais o controle sobre a América, e começou a custear as conquistas e todo um aparato administrativo colonial.

Vera Cruz, no México, um centro importante para a expansão e o controle da América, além de fazer parte da rota que levava os espanhóis para as Filipinas, se tornou uma sede da administração espanhola, fiscalizada de perto por enviados da coroa. Já em 1511, a coroa impôs a fundação de Audiências, em todas as regiões conquistadas. Tal órgão teria a função de fiscalizar os colonos.

Em 1524 foi criado o Conselho das Índias (com sede em Sevilha, na Espanha), que tinha jurisdição completa (civil, militar, financeira, comercial, eclesiástica) sobre as terras americanas, e estava subordinado exclusivamente à coroa espanhola.

Vice-reino da Nova Espanha

Na América foi fundado o primeiro vice-reino em 1535: a partir das terras conquistadas por Hernán Cortés no México indo em direção ao norte (EUA), a região passou a ser o Vice-Reino da Nova Espanha, controlado por um vice-rei escolhido pelo Conselho das Índias, fiel ao rei da Espanha. Em 1543 foi fundado o Vice-Reino do Peru e dessa forma os adelantados tiveram seus poderes anulados e os ayuntamientos passariam a obedecer aos vice-reis escolhidos.

Assim, todo sonho de poder e privilégios que tinha povoado a cabeça de inúmeros homens que se embrenharam na América caíram por terra: todos eles perderam seus privilégios.

Em meados do século XVI a coroa da Espanha se impunha como a senhora suprema das colônias do Novo Mundo, ou pelo menos era o que parecia.

Os reis e os nobres espanhóis (que nunca colocaram os pés na América), não compreenderam a imensidão e a grande diversidade do continente, e acabaram impondo leis que não correspondiam à realidade, por isso mesmo eram quase sempre descumpridas. Ou então, a enorme riqueza, a distância e a dificuldade de fiscalização gerava uma rede de corrupção infinita e quanto mais a coroa castelhana tentava se impor à administração da América, mais essas redes surgiam.

Uma frase sintetiza a relação dos colonos espanhóis na América com as imposições da coroa: "Obedeço, mas não cumpro!".

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